9.10.2023

O papel das juventudes no enfrentamento às mudanças climáticas

Cinco anos após a primeira greve de Greta Thunberg, o lugar conquistado pelos mais novos é inquestionável e, cada vez mais, eles ocupam diferentes espaços de tomada de decisão

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Sabrina Brito
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Imagem de uma criança que segura um cartaz que diz "Salve nosso planeta".
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Jonne Roriz/ Nosso Impacto
Protesto de jovens em Glasgow, na Escócia, durante a COP-26.

Em agosto de 2018, a ativista sueca Greta Thunberg, então com 15 anos, matou aula pela primeira vez em uma sexta-feira para protestar contra a falta de ação para enfrentar a mudança do clima. A ação foi o início de uma série de manifestações, lideradas por jovens, que levaram milhões de pessoas às ruas.

À época, a figura de Greta dividiu opiniões. De um lado, aqueles que prontamente reconheceram a importância do movimento que estava nascendo. De outro, figuras, em sua maioria adultas, que tentaram reduzi-la ao estereótipo de adolescente histérica.

Cinco anos depois, a soma de discursos, eventos internacionais, multidões nas ruas e novos grupos que se formaram comprova a importância do efeito Greta pelo mundo.  Contudo, em 2020, a pandemia de coronavírus impôs o isolamento social e uma nova dinâmica se consolidou. Se os protestos nas ruas diminuíram, a mobilização em outros espaços de tomada de decisão ganhou força.

Mão na massa

Um exemplo da evolução do ativismo jovem é o primeiro caso judicial climático apresentado ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos movido por seis jovens de 11 a 24 anos contra 32 países da Europa. A acusação consiste no fracasso dessas nações em enfrentar a mudança climática, e o objetivo principal é que o tribunal as obrigue a intensificar as ações contra o aquecimento global.

Na mesma toada, um grupo de jovens do estado de Montana, nos Estados Unidos, ganhou um processo ligado ao meio ambiente em junho deste ano. O tribunal entendeu que a falha do estado em considerar a mudança climática ao aprovar projetos de uso de combustíveis fósseis era inconstitucional.

No Brasil, outras iniciativas tomaram forma. No município de Matão, em São Paulo, foi criado o Parlamento Jovem. O Parlamento abrange pessoas da 5ª à 9ª série do Ensino Fundamental, de 1ª a 3ª série do Ensino Médio.

Desde a criação do Parlamento Jovem, 13 projetos de lei apresentados ali se tornaram políticas públicas municipais. Um exemplo é a implementação de hortas comunitárias nas escolas. Como consequência, a iniciativa ficou em segundo lugar no concurso SDG Action Awards, da ONU, responsável por premiar programas que têm relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para o articulador nacional da organização de lideranças jovens Engajamundo, João Pedro Ferreira Santos, de 17 anos, a juventude desempenha um papel vital ao reimaginar os caminhos para um ativismo mais efetivo na luta contra as mudanças climáticas.

“Os jovens podem influenciar positivamente a conscientização global. Ao focar em soluções práticas e colaborativas, podemos construir pontes entre gerações e mostrar que o ativismo juvenil não apenas alerta sobre os desafios, mas nos permite ter esperança sobre um futuro sustentável, em vez de um cenário apocalíptico”, disse Santos.

Ainda no Brasil, a pesquisa Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas ouviu 5.150 pessoas com idades entre 15 e 29 anos em diferentes regiões do país entre julho e novembro de 2022.

De acordo com o levantamento, o meio ambiente é considerado a sexta prioridade dos jovens. Ainda, 90% dos entrevistados afirmaram se preocupar “totalmente” (50%) ou “mais ou menos” (40%) com questões ambientais.

Para a ativista da organização gaúcha Eco pelo Clima, Renata Padilha, há uma herança ingrata que cairá na conta das gerações mais novas. "As crianças e as juventudes de hoje são as que menos contribuíram para o cenário caótico em que nos encontramos e as que mais estão e continuarão sentindo os impactos da crise climática”, disse.

Como parte da geração que lutou pelo seu espaço, Padilha vê o potencial da atuação das juventudes de forma muito prática. Ela destaca o caso do Rio Grande do Sul, onde o movimento Eco pelo Clima reuniu mais de 400 pessoas em uma audiência pública na Assembleia Legislativa do estado para debater emergência climática.

“Foi a primeira vez na história que o tema foi discutido. Dessa audiência, saiu o primeiro Fórum Popular Gaúcho sobre Mudanças Climáticas. Dentro desse espaço, construímos mobilizações por um decreto de emergência climática estadual e por transição energética justa. A audiência pública, liderada pela juventude climática, construiu algo inédito no Rio Grande do Sul e possui um potencial gigantesco de transformação", disse. 

Vozes globais

Como resultado da ação dos jovens nos últimos anos, a COP-27, realizada em 2022, teve, pela primeira vez, um dia específico na agenda da conferência para o debate sobre as juventudes no contexto da mudança do clima. Agora, a expectativa é pela COP-28, que acontecerá em novembro nos Emirados Árabes Unidos.

Em entrevista ao site da ONU, a ativista brasileira Paloma Costa afirmou que é preciso ir além das declarações, pois estas frequentemente “não são respeitadas”. Para ela, a juventude tem um papel único para que o mundo consiga cumprir o Acordo de Paris e evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5ºC até o final deste século.

“O reconhecimento dos jovens na luta contra a crise climática é superimportante, mas agora o objetivo é tentar transformar esse reconhecimento em ações tangíveis. O próximo passo envolve uma maior inclusão dos jovens nas tomadas de decisão.”

Para Santos, do Engajamundo, “é necessário manter um projeto de educação ambiental, caminhar em direção a um modelo de produção e consumo sustentáveis e cobrar a implementação efetiva de políticas climáticas. A colaboração intergeracional e internacional também é vital para abordar a complexidade global das mudanças climáticas”.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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